ouço sobre o engano da falsa descoberta dum universo paralelo em que o tempo anda pra trás. surpreendo-me com meus conterrâneos mencionados além-mar pela sua música que fala das nuvens, a sonoridade curiosa lusitana do nome da sua banda — que já não mais existe, creio. mais cedo, me encantei com o som de pianos eletrônicos fabricados em décadas que há muito se foram. (guardada a pedância da frase, a beleza de just two of us improvisado num rhodes 1975, lembre). escrevo mirando outro piano, tradicional, que repousa sob a única fonte de luz da sala e também não me pertence. às vezes tento inventar, só por aquele instante, trilhas de terror para acompanhar o movimento dos gatos — que também não são meus. tenho pensado muito no som, ao qual costumo não dar tanta importância do que ao silêncio, que sempre me pareceu desejável e soberano. mas “tudo está no som”, diz o programa de rádio. e, ainda que o tempo não ande pra trás, peço licença ao tempo para que me conceda recordar a tua voz, vó. uma voz que cantava, amava o ruído.

almejo dominar o som com a certeza de que não quero torná-lo cativo. mas há um oco, um espaço vazio tomado por um silêncio que é de todo ruim. o ruído surdo de não ter linguagem nem poder expressar o que as palavras não poderão dizer. (outra frase ruim aqui, até piegas, que poderia ser substituída por um acorde). há mais de dez anos sonhei com um piano operado por agulhas, um grande porco espinho em que cada item retirado trazia uma nota diferente. e achei bonito. nesses dias, vi uma espécie de piano operado de modo semelhante e pensei como se tudo fosse uma premonição do que nunca havia sonhado em ver. bobagem. agora, yoshimi ueno, sea sound, 1980 (obrigada, algoritmo — o melhor curador musical contemporâneo), segunda faixa, tsuchi ningy (o que isso significa?). ao que traduzo: bambambambambambam bam bam, com um balbucio. a frustração crítica que sobrepõe e esmaga o desejo.

resolvi pesquisar os sinônimos de balbucio e cheguei à conclusão de que o esbarrar da língua não consegue se resolver bem em uma palavra. seus sinônimos são…. outras formas de balbuciar: blesidade, tentativa, balbuciação, balbúcie, balbuciência, ceceio, dislalia, lambdacismo, mogilalismo, nasalação, rotacismo, sigmatismo, zetacismo, zezeísmo. é preciso um conjunto para balbuciar. mas esse assunto já me cansa, é matéria para outra hora.

blablebliblublau.